Sermão de Santo Tomás
Prólogo
Caríssimos irmãos, quão grande é o deleite, quão grande é o prazer, quão grande é a suavidade que se encontra nas palavras celestiais da sabedoria! Isso é evidente até mesmo nas palavras do filósofo natural, que escreve no livro 10 da Ética sobre o conhecimento criado: todos os prazeres são, em algum momento, interrompidos. O maior, contudo, é o prazer que está em conformidade com a operação da sabedoria, e a operação mais deleitosa é aquela que está em conformidade com a operação da sabedoria. Também o filósofo teológico escreve em Sabedoria 7,8 que ele a amou mais do que o ouro e a aparência exterior; "ela" é a sabedoria celestial sobre a qual falamos.
Por isso, pediremos, no início desta homilia, a Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte de toda sabedoria (cf. Eclo 1,5), que é, segundo São Dionísio no livro 6, parte c, da Hierarquia dos Anjos, o principal instrutor de todos os espíritos celestiais e das almas devotas, que ilumine nosso entendimento, inflame nossos corações e torne eloquente a minha boca para a glória de seu nome, em conformidade com o ensinamento do Evangelho e para a edificação de nossas almas.
Sermão
Céus e terra passarão (Lc 21,33). Nessas palavras, é descrita a situação dos justos e dos injustos, segundo um entendimento espiritual. Nosso Salvador, o mais providencial e manso, transmitiu essas palavras — por cuidado com a salvação de suas ovelhas na fé (cf. Jo 10,13) — aos seus discípulos e, através deles, a todos os fiéis, para que atentassem seriamente ao Juízo Final, sem precisar mencionar o termo, pois já é claro.
1. O substantivo "céu" e sua aplicação ao justo. Com o substantivo céu, descreve-se a maravilhosa elevação do homem celestial. Por quatro razões, o homem justo é associado ao termo céu:
1.1. O céu é de grande luminosidade, como demonstra o Filósofo no livro 2 de Sobre o Céu e a Terra. Assim, mostra-se que o justo deve ser cheio de luz pela sabedoria celeste, como lemos em Eclesiástico 24,4: Fiz minha morada no céu, para que a luz perfeita surgisse.
1.2. O céu possui um esplendor magnífico, também demonstrado no livro 2 de Sobre o Céu e a Terra. Isso indica que o justo deve ser como um círculo de ampla misericórdia ou como uma órbita de ampla devoção e amor perfeito. A Sabedoria eterna diz em Eclesiástico 24,5: Sozinha, circundei o firmamento do céu.
1.3. O céu é móvel, conforme o Filósofo demonstra no livro 8 da Física. Assim, entende-se que o justo deve ser movido continuamente por uma diligência espiritual. Em Jó 38,37, lemos: Quem narrará os pensamentos dos céus e quem fará cessar o que contêm?
1.4. O céu é elevado em localização, o que seus efeitos e visão provam. Isso aponta que o justo deve se sobressair em santidade por eminência. Em Eclesiástico 43,1, lemos: O firmamento da altura — isto é, a elevação do firmamento — é sua beleza, a visão do céu em uma visão de glória.
2. O substantivo "terra" e sua aplicação ao injusto. O homem mundano, de forma alguma, é comparável ao injusto; ele é associado à terra pelos seguintes motivos:
2.1. Por sua capacidade de entendimento, como lemos em Gênesis 1,2: Trevas cobriam a face do abismo. A terra era vazia e deserta.
2.2. Pela fraqueza da avareza, como diz Colossenses 3,2: Saboreai as coisas do alto, não as que estão na terra. Em Salmo 44,25, lemos: Nossa barriga está colada ao chão.
2.3. Pela aridez da maldade (cf. Jo 4,10–15), como se lê em Gênesis 1,10: E Deus chamou a terra seca de "terra".
2.4. Pela imutabilidade da alma, vida ou opinião, como encontramos em Eclesiastes 1,4: A terra permanece para sempre. Isso é precedido por: A geração dos bons passa, e a geração dos justos chega.
3. A diferença no verbo "passar" entre o justo e o injusto
3.1. O justo passa:
3.1.1. Do pecado à justiça, como em Isaías 45,14: Homens elevados e pecadores orgulhosos passarão para ti, e serão teus.
3.1.2. Avançando de virtude em virtude, como em Eclesiástico 29,26: Passa, estrangeiro; prepara a mesa, significando: Prepara tua consciência para o esposo celestial (cf. Prov 9,1–6).
3.1.3. Do labor presente ao descanso eterno, como em Salmo 66,12: Passamos pelo fogo e pela água, e nos conduziste ao repouso.
3.2. O injusto passa:
3.2.1. Da inocência à culpa, como em Eclesiástico 28: Ele passa da justiça ao pecado.
3.2.2. Da culpa à culpa, como em Provérbios 14,16: O homem sábio teme e se desvia do mal; o insensato passa confiante.
3.2.3. Da culpa ao castigo eterno, como em Jó 36,12: Se não ouvirem, passarão pela espada, ou seja, pelo castigo eterno.
Portanto, tendo em vista a breve descrição da maravilhosa elevação do homem celestial no substantivo céu, o justo e merecido desprezo pelo homem mundano no substantivo terra, e a diferença na vida de ambos em relação ao verbo passar, empenhemo-nos em renunciar às coisas terrenas e amar as coisas celestiais (cf. Cl 3,1), de tal maneira que desprezemos a vida mundana e abracemos a vida celestial, para que possamos passar do labor ao descanso (cf. Hb 4,10), do mundo à glória, o que Ele nos conceda, et cetera.
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